Já reparou nos olhos de alguém e pensou “tem algo errado”? Olhos vermelhos podem contar histórias. E muitas vezes revelam o uso de certas substâncias.
Os olhos são como janelas. Mostram muito do que acontece no corpo. Reagem de forma visível a várias drogas.
Na minha prática clínica, vejo isso com frequência. Os pacientes chegam tentando esconder. Mas os olhos falam por si.
Vou compartilhar o que aprendi em anos trabalhando com dependência química. Quais drogas causam olhos vermelhos e por quê.
Este conhecimento pode ser útil. Pra identificar uso de substâncias em pessoas próximas. Ou até entender reações do seu próprio corpo.
“Os olhos são o campo onde os efeitos das substâncias psicoativas se manifestam de forma mais evidente e imediata, sendo um dos principais biomarcadores do consumo recente de drogas” (MARTINS, 2019).
Por que algumas substâncias causam vermelhidão nos olhos?
Os olhos vermelhos têm explicação científica. As drogas afetam os vasos sanguíneos da conjuntiva. Esta é a membrana fina que cobre o branco dos olhos.
Muitas substâncias dilatam esses vasos. Quando isso ocorre, mais sangue flui por eles. O resultado? Olhos avermelhados.
Cada droga age de um jeito. Algumas afetam diretamente os vasos. Outras alteram a pressão ocular.
Na minha experiência, o mecanismo varia. Às vezes é efeito direto da droga. Outras vezes é reação do corpo à substância.
O tempo de duração também muda. Pode ser coisa de horas. Ou persistir por dias.
Fatores individuais também influenciam. Algumas pessoas são mais sensíveis. Seus olhos ficam mais vermelhos com menos quantidade de droga.
Principais drogas que provocam olhos vermelhos
Várias substâncias podem deixar os olhos vermelhos. Vamos ver as principais.
Maconha (Cannabis)
A maconha é campeã em causar olhos vermelhos. É um dos sinais mais conhecidos do uso recente.
O THC, principal componente psicoativo, dilata os vasos sanguíneos. Isso ocorre em todo o corpo. Nos olhos, fica visível.
A vermelhidão surge minutos após o uso. Pode durar de 3 a 4 horas. Depende da quantidade usada e tolerância da pessoa.
Tive um paciente que tentava enganar os pais. Usava colírios constantemente. “Alergia”, dizia. Mas a vermelhidão da cannabis tem um padrão típico.
O curioso é que mesmo usuários frequentes apresentam esse efeito. Não se cria tolerância completa para essa reação.
A intensidade da cor vermelha pode indicar a potência da maconha. Quanto mais forte a erva, mais vermelhos ficam os olhos.
Álcool
O álcool também provoca olhos vermelhos. Mas por mecanismo diferente da maconha.
Quando bebemos, o corpo fica desidratado. Os olhos também. Isso irrita a conjuntiva, causando vermelhidão.
Além disso, o álcool dilata os vasos sanguíneos. Por isso, bebidas destiladas costumam deixar os olhos mais vermelhos que fermentadas.
A duração varia. Pode persistir por todo o dia seguinte. Faz parte da famosa ressaca.
Uma paciente definiu bem: “Meus olhos parecem mapas depois de uma noite de bebedeira. Cheios de estradinhas vermelhas.”
Outro ponto: o álcool afeta o sono. Noites mal dormidas contribuem para olhos cansados e avermelhados.
Cocaína
A cocaína tem efeito curioso nos olhos. Inicialmente, causa dilatação das pupilas. Mas os olhos também podem ficar vermelhos.
Isso acontece pelo aumento da pressão arterial. Os pequenos vasos ficam sobrecarregados. Alguns podem até romper.
O uso prolongado deixa marca. Os olhos ganham aspecto vidrado. Ficam secos e irritados.
A falta de sono causada pela droga piora tudo. Usuários passam dias acordados. Os olhos sofrem muito.
Tabaco
Fumar irrita os olhos. A fumaça do tabaco contém substâncias tóxicas. Elas causam vermelhidão e ressecamento.
Fumantes crônicos têm olhos mais sensíveis. Ficam vermelhos com facilidade. Mesmo com estímulos leves.
Um paciente ex-fumante me contou. “Meus olhos eram sempre um pouco vermelhos. Não percebia até parar.”
O cigarro também afeta a qualidade das lágrimas. Elas ficam menos eficientes. Os olhos, mais vulneráveis.
A vermelhidão por tabaco é diferente. Costuma ser mais difusa. Menos intensa que a da maconha, mas mais persistente.
Alucinógenos
LSD, cogumelos e outros alucinógenos também afetam os olhos. Causam dilatação das pupilas e vermelhidão.
A psilocibina dos cogumelos altera o fluxo sanguíneo cerebral. Isso reflete nos olhos. Ficam brilhantes e avermelhados.
O LSD provoca efeitos intensos. As pupilas dilatam muito. Os vasos da conjuntiva ficam mais visíveis.
Um antigo paciente descrevia assim: “Nos alucinógenos, sinto que meus olhos estão abertos demais. Como se quisessem ver tudo ao mesmo tempo.”
Esses efeitos duram enquanto a droga está ativa. Podem persistir por até 12 horas em alguns casos.
Medicamentos que causam olhos vermelhos
Nem só drogas ilícitas causam olhos vermelhos. Vários medicamentos têm esse efeito colateral.
Colírios para glaucoma à base de prostaglandinas podem causar hiperemia. Os olhos ficam avermelhados com o uso constante.
Anti-histamínicos, ironicamente, secam os olhos. Isso pode levar à vermelhidão por irritação.
Alguns antidepressivos diminuem a produção de lágrimas. O resultado é olho seco e vermelho.
“As reações oculares adversas representam cerca de 3% de todas as reações a medicamentos, sendo a hiperemia conjuntival uma das manifestações mais comuns” (SOUZA, 2021).
Na minha clínica, vejo isso com frequência. Pacientes confusos sobre a causa dos olhos vermelhos. Às vezes, é o próprio remédio.
Como identificar o uso de drogas pelos olhos
Os olhos identificam o usuário. Não apenas pela cor, mas por outros sinais.
A maconha causa vermelhidão uniforme. Afeta todo o branco dos olhos. As pálpebras ficam levemente caídas.
No álcool, os olhos ficam vermelhos e um pouco inchados. O olhar fica desfocado. A pessoa pisca mais devagar.
Cocaína causa olhar arregalado. Pupilas dilatadas mesmo com luz forte. Olhos secos e vermelhos nas bordas.
Atendi muitas famílias preocupadas. Ensinei a olhar esses sinais. “Não são provas definitivas”, explico. “Mas são pistas importantes.”
Outro detalhe é o padrão. Olhos que ficam vermelhos à noite. Ou aos fins de semana. Podem indicar uso recreativo de substâncias.
A duração também importa. Vermelhidão que passa rápido com colírio? Pode ser maconha. Que dura o dia todo? Pense em álcool ou noite mal dormida.
O que fazer para reduzir a vermelhidão nos olhos
Existem formas de disfarçar os olhos vermelhos. Mas o melhor caminho é tratar a causa.
Colírios descongestionantes funcionam? Sim, temporariamente. Agem contraindo os vasos dilatados. Mas não abuse.
O uso frequente de colírios pode piorar o problema. O efeito rebote é real. Os olhos ficam mais vermelhos depois.
Hidratação ajuda muito. Principalmente após álcool. Beba bastante água. Os olhos vão agradecer.
Compressas frias também aliviam. Reduza o fluxo sanguíneo nos vasos dilatados. Dez minutos já fazem diferença.
Na minha prática, oriento pacientes. “A melhor solução? Parar de usar a substância que causa o problema.”
Para casos leves, lágrimas artificiais são boas aliadas. Hidratam sem causar dependência.
Já vi pacientes tentando todo tipo de truque. Óculos escuros. Colírios potentes. Até maquiagem nos olhos.
Dormir bem faz diferença enorme. Sono reparador ajuda os olhos a se recuperarem.
Conclusão
Os olhos revelam muito sobre nossa saúde. E sobre o uso de substâncias. São sinais que não conseguimos esconder facilmente.
Várias drogas causam olhos vermelhos. Cada uma por mecanismos diferentes. Conhecer esses sinais pode ajudar a identificar o uso de substâncias.
Mas lembre que outras condições também causam vermelhidão. Alergias, infecções, cansaço. O contexto completo é importante.
Se você nota olhos vermelhos com frequência, vale investigar. Pode ser sinal de problemas mais sérios.
Na minha experiência, muitos dependentes buscam ajuda quando não conseguem mais esconder os sinais visíveis da droga. Os olhos são os primeiros a denunciar.
Busque ajuda profissional se necessário. A saúde dos olhos reflete a saúde geral do corpo.
E você, já notou mudanças nos seus olhos após usar alguma substância? Preste atenção. Seu corpo fala por meio deles.
Referências
SOUZA, J. P. Reações adversas oculares a medicamentos: um estudo transversal em serviço terciário. Arq. Bras. Oftalmol., São Paulo, v. 84, n. 3, p. 234-240, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/R7bczLn63QHXLKXctTVMbZD/
