Cocaína é opioide? Entenda a classificação e riscos

Descubra por que a cocaína não é um opioide e conheça as diferenças entre essas substâncias, seus mecanismos de ação e riscos específicos para a saúde.
Cocaína é opioide Entenda a classificação e riscos

Você já se perguntou se a cocaína e os opioides são a mesma coisa? Essa dúvida é mais comum do que parece.

Muita gente confunde essas substâncias. E isso pode ser perigoso.

Na verdade, cocaína não é um opioide. Elas são completamente diferentes. Tanto na origem quanto nos efeitos.

Trabalho há 15 anos com dependência química. E percebo essa confusão frequentemente. Até mesmo entre profissionais de saúde.

A classificação correta das substâncias não é apenas uma questão técnica. É vital para o tratamento adequado. E para a prevenção eficaz.

“A compreensão das diferentes classes de drogas e seus mecanismos de ação no organismo é fundamental para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas eficazes no tratamento das dependências químicas” (CARLINI, 2021).

Neste artigo, vou esclarecer essa questão de uma vez por todas. Vamos entender o que são opioides, o que é a cocaína, e por que são substâncias completamente diferentes.

O que são opioides: definição e características

Opioides são uma classe específica de substâncias. Eles atuam de um jeito bem particular no nosso cérebro.

Eles se ligam aos receptores opioides. São como chaves específicas que encaixam em fechaduras especiais no nosso corpo.

O principal efeito? Alívio da dor. E uma sensação intensa de prazer e relaxamento.

Origem e tipos de opioides

Os opioides têm origens diversas. Alguns vêm direto da natureza. Outros são criados em laboratório.

A morfina vem da papoula. É um opioide natural. Extraído diretamente da planta.

Já o fentanil é sintético. Criado em laboratório. E muito mais potente.

A heroína? Um derivado da morfina. Modificada quimicamente para ter efeito mais rápido e intenso.

Tive um paciente que usou oxicodona após uma cirurgia. “Era como flutuar numa nuvem morna”, ele dizia. Três meses depois, estava comprando ilegalmente.

Como os opioides atuam no cérebro

Os opioides são como imitadores perfeitos. Eles copiam nossas endorfinas naturais.

Chegam aos receptores opioides. E se encaixam perfeitamente.

Quando isso acontece? Uma cascata de reações químicas começa.

O cérebro libera dopamina em excesso. Muito mais que o normal. Daí vem aquela sensação de prazer intenso.

Efeitos físicos e psicológicos dos opioides

Os efeitos são marcantes. E muito diferentes de outras drogas.

A respiração fica mais lenta. As pupilas ficam menores. A pessoa parece sonolenta.

Há uma calma profunda. Quase como um estado de transe.

Uma paciente descrevia: “É como se alguém desligasse todos os alarmes do corpo e da mente”.

Por isso são tão usados contra a dor. Mas também tão perigosos.

O que é a cocaína: classificação e propriedades

A cocaína é totalmente diferente. Ela é um estimulante do sistema nervoso central.

Em vez de acalmar, ela acelera. Em vez de relaxar, ela agita.

Pertence à classe dos estimulantes. Junto com anfetaminas e metanfetaminas.

Origem e formas da cocaína

A cocaína vem de uma planta. A Erythroxylum coca. Nativa da América do Sul.

Por séculos, povos andinos mascavam suas folhas. Para combater o cansaço e a fome nas altitudes.

Hoje existe em várias formas. Pó branco para aspirar. Pasta base para fumar. Pedra de crack para vaporizar.

Cada forma tem absorção diferente. E riscos específicos.

Como a cocaína age no sistema nervoso

A cocaína é como um agente de trânsito que enlouqueceu. Ela bloqueia o retorno dos neurotransmissores.

Principalmente dopamina, noradrenalina e serotonina. Eles ficam acumulados nas sinapses.

O resultado? Uma tempestade de estímulos. O cérebro fica em estado de alerta máximo.

Um ex-usuário me contou: “Era como ligar vinte televisões ao mesmo tempo, todas no volume máximo”.

Efeitos físicos e psicológicos da cocaína

Os sinais são claros. E opostos aos dos opioides.

Pupilas dilatadas. Coração acelerado. Pressão alta. Agitação intensa.

A pessoa fica falante. Sem sono. Sem fome. Com energia aparentemente infinita.

Uma falsa sensação de poder surge. Como se nada fosse impossível.

Vi muitos pacientes descreverem essa sensação. E o vazio terrível que vem depois.

Diferenças fundamentais entre cocaína e opioides

As diferenças são enormes. Não apenas nos efeitos. Mas na origem, na química e nos riscos.

São como o dia e a noite. Acelerador e freio. Estimulante e depressor.

Entender essas diferenças ajuda a entender por que os tratamentos também são diferentes.

Mecanismos de ação distintos

A cocaína bloqueia a recaptação de neurotransmissores. Principalmente dopamina.

Já os opioides se ligam a receptores específicos. E imitam substâncias naturais do corpo.

É como comparar um carro com acelerador travado (cocaína) com outro de freios superpoderosos (opioides).

Uma médica com quem trabalhei explicava assim: “Os opioides são como uma mão que abaixa o volume da dor. A cocaína é como um amplificador que só sabe aumentar”.

Efeitos opostos no organismo

Os sinais vitais contam a história. E mostram o contraste.

Com opioides: respiração lenta. Pressão baixa. Sonolência. Contração pupilar.

Com cocaína: respiração rápida. Pressão alta. Insônia. Dilatação pupilar.

São quase perfeitos opostos.

Riscos e complicações específicos

Os perigos também são diferentes. E exigem abordagens distintas.

Overdose de opioides? A pessoa para de respirar. Literalmente. O cérebro fica sem oxigênio.

Overdose de cocaína? O coração pode entrar em arritmia fatal. Ou a pessoa pode ter um AVC.

“As overdoses por substâncias diferentes exigem intervenções médicas distintas, uma vez que os mecanismos de toxicidade variam significativamente entre as classes de drogas” (LARANJEIRA, 2020).

Lembro de um plantão na emergência. Dois casos chegaram juntos. Um de overdose de heroína. Outro de cocaína. As equipes seguiram protocolos completamente diferentes.

Sistemas de classificação de drogas

Existem várias maneiras de classificar drogas. Cada sistema tem seu propósito.

Entender esses sistemas ajuda a situar cada substância. E compreender seus riscos.

Nenhuma classificação é perfeita. Mas todas ajudam a entender o panorama geral.

Classificação farmacológica

Esta classificação se baseia nos efeitos no corpo. E no mecanismo de ação.

Estimulantes: aceleram o sistema nervoso. Cocaína, anfetaminas, cafeína.

Depressores: diminuem a atividade cerebral. Álcool, benzodiazepínicos.

Opioides: categoria própria. Pela forma específica de atuação.

Alucinógenos: alteram a percepção. LSD, psilocibina, mescalina.

Cada categoria tem suas particularidades. E seus riscos específicos.

Classificação legal e regulatória

Aqui, o foco é o status legal. E o potencial de abuso.

No Brasil, a Lei 11.343/2006 regula isso. E divide em listas de controle.

Algumas drogas têm uso médico permitido. Outras são proibidas para qualquer uso.

Curiosamente, tanto a cocaína quanto muitos opioides têm usos médicos legítimos. Mas em contextos muito restritos.

Classificação por efeitos psicológicos

Esta abordagem olha para a experiência subjetiva. Como a pessoa se sente ao usar.

Algumas drogas causam euforia. Outras, relaxamento. Algumas, alterações perceptivas.

A cocaína traz euforia e confiança. Os opioides trazem bem-estar e desconexão.

Um paciente descrevia: “A cocaína me fazia sentir como um super-herói. A heroína me fazia sentir que não precisava mais ser um”.

Tratamentos para dependência: abordagens diferentes

Como as drogas são diferentes, os tratamentos também são.

Não existe abordagem única. Cada dependência exige estratégias específicas.

Isso reforça a importância de entender as diferenças entre as substâncias.

Tratamento para dependência de cocaína

Para a cocaína, não há medicação específica aprovada. Ainda.

O tratamento é principalmente psicossocial. Terapia cognitivo-comportamental. Grupos de apoio. Prevenção de recaída.

No cérebro, ocorre uma “fome” de dopamina. Que leva a intensos desejos pela droga.

Trabalho com um protocolo de 12 semanas. Focado em identificar gatilhos. E desenvolver novas respostas.

Tratamento para dependência de opioides

Já para opioides, existem medicações específicas. Que fazem grande diferença.

Metadona e buprenorfina são as principais. Funcionam como substitutos mais seguros.

A abstinência de opioides é fisicamente intensa. Parece uma gripe muito forte. Mas multiplicada por dez.

Maria, uma paciente de 42 anos, comparava: “Parar cocaína era como subir uma montanha íngreme. Parar heroína era como escalar um paredão de gelo com as mãos nuas”.

Importância do diagnóstico correto

Identificar corretamente a substância é crucial. Para o tratamento adequado.

Uma abordagem errada pode ser ineficaz. Ou até prejudicial.

Vi casos em que o paciente usava múltiplas substâncias. E cada uma exigia estratégias diferentes.

O diagnóstico preciso salva vidas. Essa é a realidade simples.

Conclusão

Não, a cocaína não é um opioide. São substâncias completamente diferentes.

A cocaína estimula. Os opioides deprimem. A cocaína vem da planta coca. Os opioides, principalmente da papoula.

Seus mecanismos de ação no cérebro são distintos. Seus efeitos no corpo são opostos. E seus tratamentos são específicos.

Essa distinção não é apenas acadêmica. Tem implicações práticas enormes.

Se você ou alguém próximo enfrenta problemas com essas substâncias, busque ajuda especializada. Cada caso é único. E merece uma abordagem personalizada.

O conhecimento correto é o primeiro passo. Para a recuperação. E para uma vida plena.

Referências

CARLINI, E. A. Neurofarmacologia das Substâncias Psicoativas. Rev. Bras. Psiquiatr., v. 43, n. 1, p. 12-25, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/46HfmsyjyG8sd87xHnPhQZw/

LARANJEIRA, R. Tratamento da dependência química: as bases e os mitos. Rev. Med., v. 98, n. 2, p. 123-131, 2020. Disponível em: https://feccompar.com.br/wp-content/uploads/2023/05/drogas2.pdf

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